sábado, 9 de novembro de 2013

Minhas velhas e gastas mãos

Minhas lágrimas são tristes,
Sujas, bastardas e secas.
Meus lençóis não são de seda,
Minha roupa é de tecido barato,
Minhas mãos grossas e feias,
Que sustentam dez bocas famintas,
Estão cansadas e mal se sustentam.

Minha fé ainda é forte,
Pois o santo traz sorte
E não me deixa morrer.
Pois, se eu morresse,
Quem cuidaria
Da minha Maria
E dos filhos que eu
Não veria crescer?
Deus é bom e me dá forças,
Porque, se não, era na forca
Que eu iria perecer.

Não valho muita coisa
Para os que vivem lá em cima
Nos prédios bonitos
Construídos por mim.
Não tenho dinheiro,
Não tenho estudo,
Mas sou bom sujeito.
Não roubo, eu não fumo.

Mesmo assim, um dotô
Num terno preto e com mala na mão
Disse que eu não era nada
E jogou uma moeda brilhante no chão.
E não peguei ela não
Por uma única razão:
Não sou mendigo, trabalho.
Ganho dinheiro com o meu suor
E com minha velhas e gastas mãos.

Victor da Silva Neris


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