quinta-feira, 16 de julho de 2015

Porque escrevo

         Então é madrugada e você inventa de ouvir uma música qualquer na internet. Aparece Cássia Eller na playlist e vem o pensamento "que mal faria?". Escolhe uma música inofensiva e pronto: ela não sai mais da cabeça. Quem dera fosse música ruim, pois o próprio bom senso trataria de excluí-la do HD musical. Mas não! É uma música foda que gruda e faz lembrar de muita coisa. Além disso, traz junto uma sensação de que tudo vai dar certo e de que todas as esperanças alimentadas por nós serão correspondidas. E a vontade de escrever extrapola a resistência do racionalismo barato ao qual nos impomos.
        E um bocado de reflexões explodem e, junto com elas, muito do que a gente sente e pensa explode também. As fotos que não traziam tanta coisa voltam a ensopar a gente de lembranças. E essas nos resgatam aos nossos eus de tempos atrás. E esses eus passados nos mostram que não somos tão diferentes como pensamos. As angústias, os sonhos, os medos: tudo isso volta. E como volta! 
           Ainda somos crianças. Sabemos muito pouco desse mundo de meu Deus. E, se sabemos pouco sobre o mundo, imaginem o que sabemos de nós mesmos! Ou pior, do amor.Nos dizemos sábios, impenetráveis sentimentalmente, muros de frieza e de racionalidade. No fundo, todos somos crianças assustadas com os trovões da vida. Bem no fundo, ainda somos frágeis, inocentes, pequenos. Ainda somos muito menos que um grão de areia nos deserto.
           Sentimo-nos com todo o garbo e a elegância que o mundo pode oferecer, temos reis na barriga, somos mais que o resto, somos melhores que a média. No final, apenas pó e saudade seremos. E nada disso que foi tão importante e essencial vai importar. Seremos espectros, espíritos, almas no paraíso, almas no inferno ou nada. 
         Todos começamos num encontro de gametas, todos precisamos de ar, da água, de alimento. É muita prepotência achar que é melhor que alguém. É muito triste achar que é pior que alguém. É importante lembrar que quem não se ama não pode amar o próximo. Vai ver a solução pros problemas é aprendermos a nos amarmos mais. Ser miserável não é desculpa pra tornar a vida dos outros miserável.
           Essa viagem toda por uma música, por alguns minutos. E foram os melhores em muito tempo. Deixe a mente fluir. Escolha uma boa música, pense em alguém ou fique no escuro. Tudo isso amo mesmo tempo também pode. Abra-se pra si mesmo! Permita-se! Seja você para você por alguns minutos ao menos.

Victor da Silva Neris

domingo, 5 de abril de 2015

Cicatriz

Quando a gente para pra pensar
Em tudo o que acontece 
E em tudo o que não aconteceu,
Chega a dar um aperto no peito,
Ficamos meio sem jeito.
Por que tudo aquilo pereceu?

Mas vem o contra-peso,
A alegria, a felicidade, o amor.
Vem a bonança, a esperança
E, então, se esquece o desamor.

Na balança da vida,
Somos mais felizes que tristes,
Somos mais alegres que depressivos,
Somos mais mais que menos menos.

Não se engane, amigo:
Se hoje estás caído,
Amanhã estarás renascido
E o antigo ferimento
Que tanto lhe tirou o contento
Será cicatriz curada
Que servirá somente
Para lembrar-lhe do que já foi
E do quão melhor está agora.

Cicatriz é passado,
Recibo da tempestade.
Cicatriz é moldura
Do sofrimento vencido.
Cicatriz é a chama do ruim
Arrefecida pela mão do bem.
Cicatriz é passado.
Cicatriz é passado.
Cicatriz...
Passou.

Victor da Silva Neris