segunda-feira, 27 de junho de 2016

Ontem passei na frente da sua casa

Ontem passei na frente de sua casa.
Nada demais, apenas de passagem.

A vontade de parar foi grande.
Talvez eu devesse mesmo ter parado, mas…


Chega uma hora em que é vazio.
O dia esvazia, a noite esvazia.
Aquela viagem que sempre foi tranquila fica turbulenta.

A tinta da caneta seca e só.

Esse vazio toma conta de muita coisa.
Tomou conta de quase tudo.


Não que isso seja ruim, pelo contrário.
Só é triste.

Nem sempre a tristeza é ruim.

Morte é adubo e adubo é vida.

Lembro do dia em que sua rua alagou e,
Entre nós, 
Havia quase um rio.

Esse rio virou lagoa, depois mar.

Nesse tempo eu aprendi a navegar.
O vai e vem do mar não me enjoa mais
E sei mais ou menos pra onde as estrelas vão.


Queria navegar-te como louco.
Hoje, olho ressabiado o morrer de suas ondas na minha praia.


Ontem passei na frente de sua casa.
Nada demais, apenas de passagem.

domingo, 19 de junho de 2016

Só há chama na loucura

A normalidade me assusta. 
O pensamento dentro da caixa,
Sem insights motivadores e motivantes. 

A vida monótona e segura é, todavia,
Muito insegura.

Aquele amor morno, sem graça
Não basta pra suprir as vontades.
Tem que ter loucura, tem que ter novo.

Nada como o inesperado,
Como um "vou te roubar",
Como um "feche os olhos"
Pra apimentar e enlouquecer qualquer um.

Paixão morna dá dor de barriga, indigestão.
Não dá vontade nem de provar.

O amor louco não. Muito pelo contrário!
Tão certo quanto sem dúvida,
Permeia a alma em plenitude e ascende
Uma chama que arde intensamente.

E, disso, só os loucos sabem.
Vivem sob o céu azul,
Lutando nos dias de luta
Pra amar nos dias de glória.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

O pôr do sol



Por detrás do horizonte, repousava o sol
Depois de um dia de trabalho.

Mesmo cansado, fatigado, quase sem forças,
Presenteou a todos os que o observavam
Uma transe de cores e formas.

O sol, no alto de sua majestade,
Deleitou os olhos dos grão de areia que,
Perplexos, observavam-no.

O sol é bicho estranho.
Seca, cura, mata, desidrata.
Também ilumina, traz esperanças e aquece.

O sol é bem como o amor.

Nasce lento, como se acordasse de um profundo sono.
Ascende rápido e esquenta tudo.
No seu ápice, permeia quase todo o chão.

Daí descende. Alguns percebem tarde demais e,
De repente, já é noite.

Mas outros seres o observam descer, agasalham-se
E preparam-se para vê-lo partir.

Nunca soube dizer se pôr do sol é início ou fim.
Nunca soube dizer o que é amor.
Quem sabe, talvez, por isso, seja tão apaixonante ver
O pôr do sol.

domingo, 12 de junho de 2016

Quem sabe um dia

Não sei se sou seu tipo
Nem se sou caminho.
Mas, assim, lhe digo:
Um pequeno desvio
Que mal pode fazer?

Tô há mais de ano,
Já não sei se clamo
Ou se deixo o pranto 
Escorrer.

Já perdi a hora
E, sem mais demora, 
Pego o telefone!
Quero te dizer:

Já tá ficando feio
Esse meu anseio
De te amar desse tanto
Sem você querer.

Já deu minha hora,
Vou-me sem demora;
Mas, antes de tudo, 
Quero lhe dizer:

Se por um acaso,
Nas voltas do mundo,
Não encontrar insumo 
Pro seu bem querer,
Pode ter certeza
Que terás em mim
Teu amanhecer. 

sexta-feira, 10 de junho de 2016

O melhor vem antes do beijo

Há quem diga que o beijo é o desfecho perfeito
Para o encontro de um casal.

Divirjo num ponto crucial: a magia do quase.

Antes do beijo tudo é dúvida,
Tudo é expectativa e imaginação.
Antes do beijo é água na boca,
É a incerteza mais gostosa.

Os lábios quase se encostam.
Os olhos se beijam loucamente.

A respiração acelera, os batimentos enlouquecem.
Sobe um frio na espinha, desce um calor maluco.

Juras de amor e paixão são ditas ao pé do ouvido
Com a voz de amante intenso.

Na sincronia dos movimentos dos rostos,
O quase se torna eminente e tudo potencializa.
As mãos tocam os rostos um do outro,
Os corpos grudam com a super cola da atração
E nada mais importa.

Pouco importa quem passa, que horas são,
O trabalho, a dor...
Nada.

O beijo é o ato final de um espetáculo de calores,
Sentimentos, imaginação e loucura.

Há quem diga que o beijo é o desfecho perfeito
Para o encontro de um casal.
Prefiro pensar que
O melhor vem antes do beijo.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Leve e calma

Num instante os olhos se cruzam.
Os lábios se tocam,
Os braços se entrelaçam 
E os corpos se juntam.

O mundo lá fora parou,
As luzes diminuem
E a penumbra é perfeita.

Os longos beijos encurtam-se
E os olhares se prolongam.

Miro teu corpo como que fotografando cada milímetro,
Acaricio-te como se fosse a última vez.

Percorro tua pele com beijos
Até seu pescoço insinuante.
Sinto contorcer teu corpo e fechar teus olhos.
Ajeito seus cabelos para desnudar tua nuca.
Arrepia teu corpo numa onda de calor.

Tuas costas, entregues à loucura,
Não se aguentam e se viram.
Teus flancos, reagem ao mínimo toque.

Daqui pra frente não me lembro mais.
Alguns relâmpagos de memória vêm e vão.

A memória volta perfeita no abraço derradeiro.
Você pousada sobre meu peito num sono tenro e profundo.
Leve e calma.

domingo, 5 de junho de 2016

Os olhos mentem

Naqueles dois sóis ele via
Esplendorosos girassóis
Seguindo a luz solar por onde ela ia.
Naqueles olhos castanhos, 
Tais quais o tronco de um carvalho antigo,
Achou abrigo para sua busca. 

Ele achava que os olhos eram espelho d'alma.
Pautava-se na anatomia do nervo óptico,
Na fisiologia da visão,
Na poesia da antiga tradição. 

Dizia, fagueiro e ligeiro, pra quem quisesse ouvir:
"Os olhos são verdade, não importa
O quanto as pessoas mentir tentem".
Mal sabia ele que o único defeito dos olhos
É que eles também mentem. 

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Algumas notas sobre nós

Éramos dois estranhos conhecidos;
Batemos pela vida até nos encontrarmos;
Não falou 81, ganhei-lhe um beijo;
Daquele banco, o pedaço de cerâmica não se esquece;
O olhar que não deixa estudar;
Daquele boné não me esqueço mais;
Das idas e vindas, prefiro as vindas;
Nos dias amanhecidos, a surpresa da hora ligeira;
Das tristezas, a última;
Os sonhos viraram insônia;
Aquela caixa de chicletes ainda guardo comigo;
A foto única é, às vezes, abrigo;
Meus devaneios, já não os tenho visto;
De seus olhos, não me olvido.