sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Saudade 2

tic, tac.
tic, tac.
tic, tac.
(passou-se 1 segundo)

tic, tac.
tic tac.
Oh meu Deus, o tempo não passa!

Saudade, além de nos fazer mal,
faz com que o tempo passe bem devagar.

Victor da Silva Neris

Ternura (Vinícius de Moraes)

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A Canção do Africano (Castro Alves)

Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto o braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão...

De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez, pr'a não o escutar!

"Minha terra é lá bem longe,
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!

"O sol faz lá tudo em fogo,
Faz em brasa toda a areia;
Ninguém sabe como é belo
Ver de tarde a papa-ceia!

"Aquelas terras tão grandes,
Tão compridas como o mar,
Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar...

"Lá todos vivem felizes,
Todos dançam no terreiro;
A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro".

O escravo calou a fala,
Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
P'ra não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!
.............................
O escravo então foi deitar-se,
Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.

E a cativa desgraçada
Deita seu filho, calada,
E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Soneto do amigo (Vinícius de Moraes)

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Saudade

Saudade.
Só tem na Língua Portuguesa.
Mas está presente em todos nós.

Saudade de alguma coisa,
Ou de alguém, ou de alguns muitos alguém!
A nostalgia dos bons tempos,
Também é saudade. Só que com nome diferente.

Lembrando dos amigos, dos bons momentos,
Fico triste por não poder mais vivê-los.
Fico triste por não mais vê-los, como antes.

Bastaria um dia da antiga convivência.
Só um dia.
É muito?

Já me disseram: "só os próximos ficam!"
Mas eu não quero só os próximos, quero todos!

Não sei mais o que pensar,
Não sei mais o que dizer.
Só é um desabafo.
Só é a saudade.
Só saudade.
Saudade.

Canção do Amor-Perfeito (Cecília Meireles)

Canção do Amor-Perfeito Eu vi o raio de sol
beijar o outono.
Eu vi na mão dos adeuses
o anel de ouro.
Não quero dizer o dia.
Não posso dizer o dono.

Eu vi bandeiras abertas
sobre o mar largo
e ouvi cantar as sereias.
Longe, num barco,
deixei meus olhos alegres,
trouxe meu sorriso amargo.

Bem no regaço da lua,
já não padeço.
Ai, seja como quiseres,
Amor-Perfeito,
gostaria que ficasses,
mas, se fores, não te esqueço.

Noite passada

Noite passada meu bem,
Em teus braços dormia.
Depois de uma noite de amor,
Somente sua voz ouvia.

Lembro-me de seus beijos,
Da pele macia dos seus seios.
Lembro-me das suas curvas,
Da sua boca carnuda.

Envolvido por suas carícias
Não me contive, avancei!
Dotado de muita malícia,
Teu corpo devorei!

Prazer intenso, difícil de esquecer!
Amor carnal que não pude conter.
Espero que feliz estejas agora
Lembrando dessa noite maravilhosa!

Victor da Silva Neris

I wish

I wish a world without pain.
I wish a perfect world.
I wish a planet without wars.
I wish a life without diseases.

I wish a better world.
Where the countries don't fight,
Where people live together.
Where weapons aren't necessary.
Where money is secondary.

I know that it is impossible all my desires to come true.
But I believe that there is a God.
And His name is Jesus.
I believe that He can make all I wish to come true.

I don't have a perfect world,
a perfect life, a perfect body.
But I know that God's plans are perfect.
So, His plan about my life is perfect.
And this assurance is all I need.

Victor da Silva Neris 

Insulto

...
...
...
...
...
...
...
...
...
Meu insulto a você é o meu silêncio!

Victor da Silva Neris

Onde está Deus?

Nas madrugadas da vida,
Reflito sobre tudo.
Porque nos dias dela,
Mal tenho tempo de respirar.

Nesse cotidiano maluco,
Esquecemos o quanto Deus está presente.
E por isso vem-nos a pergunta:
Onde está Deus?


Deus está nas nuvens,
Nas flores, no sol, no céu.
Deus está em cada um de nós.
Está no ar, na terra, na água.

Está nas tempestades,
Mas também nas leves brisas.
Está nos grandes rios,
Mas também nos riachinhos.

Por isso, desafio a todos!
Esperimentemos parar um pouco a cada dia
Pra tentar perceber Deus em tudo.
Então descobriremos e confirmaremos
Que ele está em todo lugar.

Então, quando estiver aflito,
E se perguntar onde está Deus,
Saiba que Ele está em todo lugar.
Do seu lado, confortando-te.
E em sua volta, protegendo-o!

Victor da Silva Neris

Os Velhos (Carlos Drummond de Andrade)

Todos nasceram velhos — desconfio.
Em casas mais velhas que a velhice,
em ruas que existiram sempre — sempre
assim como estão hoje
e não deixarão nunca de estar:
soturnas e paradas e indeléveis
mesmo no desmoronar do Juízo Final.
Os mais velhos têm 100, 200 anos
e lá se perde a conta.
Os mais novos dos novos,
não menos de 50 — enorm'idade.
Nenhum olha para mim.
A velhice o proíbe. Quem autorizou
existirem meninos neste largo municipal?
Quem infrigiu a lei da eternidade
que não permite recomeçar a vida?
Ignoram-me. Não sou. Tenho vontade
de ser também um velho desde sempre.
Assim conversarão
comigo sobre coisas
seladas em cofre de subentendidos
a conversa infindável de monossílabos, resmungos,
tosse conclusiva.
Nem me vêem passar. Não me dão confiança.
Confiança! Confiança!
Dádiva impensável
nos semblantes fechados,
nos felpudos redingotes,
nos chapéus autoritários,
nas barbas de milénios.
Sigo, seco e só, atravessando
a floresta de velhos.

Amor (Álvares de Azevedo)

Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu'alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!

Quero em teus lábio beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d'esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,
Minha'alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!

domingo, 1 de janeiro de 2012

Presente

De aniversário aceitam-se presentes.
Pode ser uma lembrança ou um presente mesmo.

Não precisa ser caro, mas tem de ser de coração!
Não precisa ser de luxo, nem de muita enfeitação.
Pode ser uma conversa ou até um sermão.
Mas o que importa é conter alguma emoção.

O melhor presente do mundo eu recebi quando nasci:
A vida.
Mas você pode me dar o segundo melhor:
Sua amizade.

Presente pode ser também a sua presença em minha vida.
Ou talvez um dia de convívio desde que seja bem convivido.
Presente pode ser uma palavra amiga.
Ou um conselho. Afinal, se conselho fosse bom a gente cobrava.
Já que não vai cobrar, dê de presente.

Deus me deu diversos presentes:
Todos os meus dias de vida, muitas amizades,
Saúde, amor e comunhão com Ele.
Sem Deus, nada tem valor.
Por isso, dar-lhe-ei um presente:
Viva com Deus, dê Deus a outras pessoas.
Dê Deus como uma palavra, uma oração, um perdão!

Finalizo esse texto com uma frase:
Vale muito mais uma palavra amiga, divina, que todos os presentes do mundo!

Victor da Silva Neris