segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Poema Pílula da Amizade

Tens em mim porto seguro.
Talvez não saiba que,
A todo segundo,
Estou zelando por você.

E, ainda que sintas a solidão
E que a sorte fuja por tuas mãos,
Tenhas em mim combustível
E força pra seguir indestrutível.

Victor da Silva Neris

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O Filtro

Das mazelas de minha vida, cansei de todas.
Passei a selecionar o que me fazia
Bem e o que me animava.
Quero bem a quem me
Bem quer e limpo
minh'alma com
filtro potente
que deixa
passar
apenas
o que
faz
bem.

Victor da Silva Neris


domingo, 18 de agosto de 2013

Velhice (Vinícius de Moraes)


Virá o dia em que eu hei de ser um velho experiente

Olhando as coisas através de uma filosofia sensata

E lendo os clássicos com a afeição que a minha mocidade não permite.

Nesse dia Deus talvez tenha entrado definitivamente em meu espírito

Ou talvez tenha saído definitivamente dele.

Então todos os meus atos serão encaminhados no sentido do túmuIo

E todas as idéias autobiográficas da mocidade terão desaparecido:

Ficará talvez somente a idéia do testamento bem escrito.

Serei um velho, não terei mocidade, nem sexo, nem vida

Só terei uma experiência extraordinária.

Fecharei minha alma a todos e a tudo

Passará por mim muito longe o ruído da vida e do mundo

Só o ruído do coração doente me avisará de uns restos de vida em mim.

Nem o cigarro da mocidade restará.

Será um cigarro forte que satisfará os pulmões viciados

E que dará a tudo um ar saturado de velhice.

Não escreverei mais a lápis

E só usarei pergaminhos compridos.

Terei um casaco de alpaca que me fechará os olhos.

Serei um corpo sem mocidade, inútil, vazio

Cheio de irritação para com a vida

Cheio de irritação para comigo mesmo.

O eterno velho que nada é, nada vale, nada teve

O velho cujo único valor é ser o cadáver de uma mocidade criadora.



quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A garrafa


Vi no mar uma garrafa
Bem longe de onde eu estava.
Refletia a luz solar
E aparecia e sumia,
No sobe e desce das ondas,
Como numa dança ritmada.

Vi uma garrafa no mar
Flutuando sobre as ondas,
Luzindo radiante e
- Deveras petulante -
Bailando sobre o oceano.

No mar vi uma garrafa
De vidro. Nem grande,
Nem pequena.
Oscilava reluzente
Sussurrando
Seus segredos mais antigos.

No mar uma garrafa vi.
Ela sobrenadava como
Quem esconde um
Segredo do resto do mundo.
E se escondia nas ondas
No vem e vai das marolas.

Uma garrafa no mar vi.
Mas antes não tivera visto.
A curiosidade de saber o que ela continha
Fez-me adentrar o mar agitado
E procurá-la naquele molejo marítimo.

Uma garrafa vi no mar
Que foi meu último destino.
Prostrado, faleci após a decepção de não achar nada
Naquela maldita garrafa.

Victor da Silva Neris

domingo, 4 de agosto de 2013

Segunda impaciência do poeta (Gregório de Matos)

Cresce o desejo, falta o sofrimento, 


Sofrendo morro, morro desejando, 


Por uma, e outra parte estou penando 


Sem poder dar alívio a meu tormento.

Se quero declarar meu pensamento, 


Está-me um gesto grave acobardando, 


E tenho por melhor morrer calando, 


Que fiar-me de um néscio atrevimento.

Quem pretende alcançar, espera, e cala, 


Porque quem temerário se abalança, 


Muitas vezes o amor o desiguala.

Pois se aquele, que espera se alcança, 


Quero ter por melhor morrer sem fala, 


Que falando, perder toda esperança.