sábado, 24 de dezembro de 2011

Amor (Carlos Drummond de Andrade)

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração para de funcionar
por alguns segundos, preste atenção. Pode ser a pessoa mais importante da
sua vida.

Se os olhares se cruzarem e neste momento houver o mesmo brilho intenso
entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o
dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante e os olhos
encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do dia for essa pessoa, se a vontade de
ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um
presente divino: o amor.

Se um dia tiver que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em troca
receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais
que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a
outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las
com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer
momento de sua vida.

Se você conseguir em pensamento sentir o cheiro da pessoa como se ela
estivesse ali do seu lado... se você achar a pessoa maravilhosamente linda,
mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos
emaranhados...

Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que
está marcado para a noite... se você não consegue imaginar, de maneira
nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...

Se você tiver a certeza que vai ver a pessoa envelhecendo e, mesmo assim,
tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela... se você preferir
morrer antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida. É uma
dádiva.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou
encontram um amor verdadeiro. Ou às vezes encontram e por não prestarem
atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer
verdadeiramente.

É o livre-arbítrio. Por isso preste atenção nos sinais, não deixe que as
loucuras do dia a dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o amor.

"Chovem duas chuvas" (Cecília Meireles)

Chovem duas chuvas:
de água e de jasmins
por estes jardins
de flores e de nuvens.

Sobem dois perfumes
por estes jardins:
de terra e jasmins,
de flores e chuvas.

E os jasmins são chuvas
e as chuvas, jasmins,
por estes jardins
de perfume e nuvens

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Eu Sou Trezentos... (Mário de Andrade)

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!
Abraço no meu leito as milhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

As sem-razões do amor (Carlos Drummond de Andrade)

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Ausência (Carlos Drummond de Andrade)

Ausência Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus
                                                                            [braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Amar

Um dia eu descobri o que era amar.
Na verdade, não descobri, esbarrei.
Dei de cara com algo tão louco
Que achei não poderia possuí-lo um dia.

Foi algo tão arrebatador que,
Até o mais rude dos homens, tremeria.
É algo tão forte que,
Até o mais cético dos homens, curvar-se-ia.

Aparece tão de repente que,
Por certo tempo, pensamos não fazer sentido.
Esperamos tanto por ele,
Mas quando aparece, pega-nos desamparados.

Torna-se tão grande, tão importante,
Que a vida passa a não poder existir sem ele.
Esse amor arrebatador, que nos desnorteia,
Torna-nos humanos, filhos de Deus.
Porque Deus fez o homem à sua imagem e semelhança
E quando amamos, tornamo-nos o mais próximo de Deus.

Victor da Silva Neris

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Minha musa

TUA PELE MORENA,
OLHOS NEGROS,
BELO SORRISO
E PELE MACIA.
TU ÉS MINHA MUSA,
MESMO QUE NÃO SAIBA,
OBSERVO SEUS MOVIMENTOS,
SONHANDO COM UM FUTURO BOM!
FUTURO CHEIO DE ALEGRIAS,
CHEIO DE AMOR E DE FILHOS,
COM UMA GRANDE CASA,
E UMA BELA FAMÍLIA.
SONHO CONTIGO TODOS OS DIAS,
SONHO EM TER VOCÊ AO MEU LADO A CADA MOMENTO,
SONHO UM AMOR ARDENTE.
SONHO COM VOCÊ,
MINHA MUSA,
MINHA INSPIRAÇÃO!

Victor da Silva Neris

Fé (Machado de Assis)

As orações dos homens
Subam eternamente aos teus ouvidos;
Eternamente aos teus ouvidos soem
          Os cânticos da terra.

          No turvo mar da vida,
Onde aos parcéis do crime a alma naufraga,
A derradeira bússola nos seja,
          Senhor, tua palavra.

          A melhor segurança
Da nossa íntima paz, Senhor, é esta;
Esta a luz que há de abrir à estância eterna
          O fulgido caminho.

          Ah ! feliz o que pode,
No extremo adeus às cousas deste mundo,
Quando a alma, despida de vaidade,
          Vê quanto vale a terra;

          Quando das glórias frias
Que o tempo dá e o mesmo tempo some,
Despida já, — os olhos moribundos
          Volta às eternas glórias;

          Feliz o que nos lábios,
No coração, na mente põe teu nome,
E só por ele cuida entrar cantando
          No seio do infinito.

Recado aos Amigos Distantes (Cecília Meireles)

Meus companheiros amados,
não vos espero nem chamo:
porque vou para outros lados.
Mas é certo que vos amo.

Nem sempre os que estão mais perto
fazem melhor companhia.
Mesmo com sol encoberto,
todos sabem quando é dia.

Pelo vosso campo imenso,
vou cortando meus atalhos.
Por vosso amor é que penso
e me dou tantos trabalhos.

Não condeneis, por enquanto,
minha rebelde maneira.
Para libertar-me tanto,
fico vossa prisioneira.

Por mais que longe pareça,
ides na minha lembrança,
ides na minha cabeça,
valeis a minha Esperança.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Mataram minha esperança

Mataram minha esperança
Mataram nossa esperança
Cremaram-na com violência
Mataram-na com falta de consciência.

A polícia corrompida
Nossos jovens no caminho do crime
As escolas sem professores
Mais crianças na rua sem comida.

Violência que cresce!
Violência que mata!
Violência que arrasa
A esperança quase acabada.

Sem a ação do governo,
Sem a ação da polícia
O povo segue com medo
O povo luta pela vida.

Victor da Silva Neris

Guerra

Bombas destroem vidas.
Armas aniquilam sonhos.
Exércitos marcham
Arrasando e dizimando a esperança.

Governantes brincam de Deus
Mandando e desmandando em vidas.
Pessoas perdem suas vidas
E crianças as suas famílias.

Tudo isso por quê?
Tudo isso pra quê?
Quanto isso custa?
Quanto vale uma vida?

Quanto vale um sonho?
Quanto vale a esperança?
Tudo isso por dinheiro
Dinheiro sem importância

Por isso buscamos
Por isso oramos
Pedimos amor e paz
E nada mais.

Victor da Silva Neris

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A minha musa (Gonçalves Dias)

Gratia, Musa, tibi; nam tu solattia praebes.
-- Ovídio
Minha Musa não é como ninfa
Que se eleva das águas - gentil -
Co'um sorriso nos lábios mimosos,
Com requebros, com ar senhoril.
Nem lhe pousa nas faces redondas
Dos fagueiros anelos a cor;
Nesta terra não tem uma esp'rança,
Nesta terra não tem um amor.
Como fada de meigos encantos,
Não habita um palácio encantado,
Quer em meio de matas sombrias,
Quer à beira do mar levantado.
Não tem ela uma senda florida,
De perfumes, de flores bem cheia,
Onde vague com passos incertos,
Quando o céu de luzeiros se arreia.
___________
Não é como a de Horácio a minha Musa;
Nos soberbos alpendres dos Senhores
Não é que ela reside;
Ao banquete do grande em lauta mesa,
Onde gira o falerno em taças d'oiro,
Não é que ela preside.
Ela ama a solidão, ama o silêncio,
Ama o prado florido, a selva umbrosa
E da rola o carpir.
Ela ama a viração da tarde amena,
O sussurro das águas, os acentos
De profundo sentir.
D'Anacreonte o gênio prazenteiro,
Que de flores cingia a fronte calva
Em brilhante festim,
Tomando inspirações à doce amada,
Que leda lh'enflorava a ebúrnea lira;
De que me serve, a mim?
Canções que a turba nutre, inspira, exalta
Nas cordas magoadas me não pousam
Da lira de marfim.
Correm meus dias, lacrimosos, tristes,
Como a noite que estende as negras asas
Por céu negro e sem fim.
É triste a minha Musa, como é triste
O sincero verter d'amargo pranto
D'órfã singela;
E triste como o som que a brisa espalha,
Que cicia nas folhas do arvoredo
Por noite bela.
É triste como o som que o sino ao longe
Vai perder na extensão d'ameno prado
Da tarde no cair,
Quando nasce o silêncio involto em trevas,
Quando os astros derramam sobre a terra
Merencório luzir.
Ela então, sem destino, erra por vales,
Erra por altos montes, onde a enxada
Fundo e fundo cavou;
E pára; perto, jovial pastora
Cantando passa - e ela cisma ainda
Depois que esta passou.
Além - da choça humilde s'ergue o fumo
Que em risonha espiral se eleva às nuvens
Da noite entre os vapores;
Muge solto o rebanho; e lento o passo,
Cantando em voz sonora, porém baixa,
Vêm andando os pastores.
Outras vezes também, no cemitério,
Incerta volve o passo, soletrando
Recordações da vida;
Roça o negro cipreste, calca o musgo,
Que o tempo fez brotar por entre as fendas
Da pedra carcomida.
Então corre o meu pranto muito e muito
Sobre as úmidas cordas da minha Harpa,
Que não ressoam;
Não choro os mortos, não; choro os meus dias
Tão sentidos, tão longos, tão amargos,
Que em vão se escoam.
Nesse pobre cemitério
Quem já me dera um lugar!
Esta vida mal vivida
Quem já ma dera acabar!
Tenho inveja ao pegureiro,
Da pastora invejo a vida,
Invejo o sono dos mortos
Sob a laje carcomida.
Se qual pegão tormentoso,
O sopro da desventura
Vai bater potente à porta
De sumida sepultura:
Uma voz não lhe responde,
Não lhe responde um gemido,
Não lhe responde urna prece,
Um ai - do peito sentido.
Já não têm voz com que falem,
Já não têm que padecer;
No passar da vida à morte
Foi seu extremo sofrer.
Que lh'importa a desventura?
Ela passou, qual gemido
Da brisa em meio da mata
De verde alecrim florido.
Quem me dera ser como eles!
Quem me dera descansar!
Nesse pobre cemitério
Quem me dera o meu lugar,
E co'os sons das Harpas d'anjos
Da minha Harpa os sons casar!

Meu nome é Brasil

Sou filho de índios.
Fui adotado por portugueses.
Criado por negros.
-
Minha infância foi muito singela.
O Romantismo a permeou.
No ufanismo dos poetas iludi-me.
No escapismo fatal deles,desesperei-me.
-
Cresci cercado por uma grande família.
Tive uma tia chamada Inglaterra.
Sempre muito elegante, sempre me incentivou a ser independente.
Tive um primo chamado EUA, que sempre soube ser mandão.
Uma tia minha, a França, por um bom tempo quis me adotar.
E uma prima insuportável, a Argentina, sempre me atazanou!
-
Cresci com a força do índio e do negro.
Aprendi os costumes e a Línguia de meus pais adotivos.
Fui influenciado por meu primo EUA e por algumas tias europeias.
Tornei-me a mais pura mistura do mundo que me cerca.
-
Com o tempo, fui crescendo e tornei-me podre.
Alguns neurônios corromperam-se e quiseram explorar os outros.
Outros, de tão rudes, fizeram de mim uma ditadura ferrenha e feroz,
Que fez meu QI cair pelo sumiço de muitos neurônios.
Mas com uma ciorurgia curei-me de alguns, mas ainda tenho sequelas.
-
Mas sei que ainda posso me tornar decente outra vez.
Ainda posso manter todas as minhas células vivas.
Afinal, minhas célulkas são brasileiras: não desistem nunca!
Meu nome é Brasil! Victor da Silva Neris

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Amigo

Amigo é uma palavra muito pequena
Tem três sílabas e só cinco fonemas!

Tem amigos gordos e magros
Tem amigos grandes e baixos.
Tem amigos fortes e fracos
Tem amigos legais e chatos.

Mas o que importa é ter amigos
O importante é ser amigo
Porque amigo é pra rir,
Mas também pra chorar.
Amigo é pra sofrer,
Mas também pra festejar!

Amigo não é só pra abraçar ou pra estar,
É alguém pra compartilhar, pra apoiar.
Amigo não é só pra brincar ou conversar,
É alguém pra amar, pra ajudar!

Sem amigos muito pouco somos.
Tão pouco que na vida não sabemos
Como é se divertir, como é partilhar
Não sabemos ao menos o que é amar!

Por isso amigos tenho
E guardo todos no lado esquerdo do peito.
Dentro do coração,
Assim como falava a canção!

Meus amigos são muitos:
Alguns são "n", outros são "p" e "j".
Um "t", alguns "f"
E até tem um que é "z"!

Com eles aprendi muitas coisas:
Amor, compaixão, gratidão,
Superação e cooperação.
Com eles aprendi a ser eu mesmo,
A ser verdadeiro
E também brincalhão.

Com eles tentei desvendar o "ovo e a galinha"
Com eles superei a dor da caminhada.
Com eles aprendi a superar as dificuldades da vida.
Com eles descobri que sem os amigos a vida não seria!

Victor da Silva Neris