quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Uma noite fria

Numa noite fria,
A lua previa
O nosso encontro
Antes de o sol nascer.

O seu riso fácil,
De olhar fechado,
Encontrou um bobo
Que fez-se aparecer.

Com um papo mole,
Cheio de deboche,
Enlacei teu foco.
— Vem me conhecer!

Te chamei de lado,
Dei o meu recado!
— Duas e meia em ponto.
— E se eu não aparecer?

Fiquei encabulado,
Me pôs encurralado.
Mas, quase de sopapo,
Fui logo a responder:

Já é passada a hora,
Venha sem demora.
Estarei lhe esperando,
Não vai se arrepender.

Logo lhe via vindo,
Em veste azul clarinho.
Teus olhos mirei, rindo:
— O que eu vou dizer?

Ao beijar-te a boca,
Disse a lua, rouca:
— Espero mais um pouco
Pro dia amanhecer.

E, hoje, quem diria
Que aquela noite fria
Daria como resultado
O nosso bem querer?