sábado, 8 de outubro de 2016

Amor é egoísta

Amor é bicho bravo.
Quando não quer algo, faz enxame,
Dá chilique e apronta barraco. 

Amor é quase tudo e
De tudo um pouco. 

Mas não é de todos. 

Amor é egoísta. 

Mas, se tem uma coisa que amor não aceita,
É egoísmo. 

Amor é partilha, comunhão, troca. 
Nunca via de mão única. 

Amor é entrega recíproca,
Sem medo, sem julgamentos.

Amor não aceita desaforo.
Amor é temperamental e birrento. 

Aparece e foge num estalar de dedos caso queira.

Amor é quase tudo e
De tudo um pouco.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Uma noite fria

Numa noite fria,
A lua previa
O nosso encontro
Antes de o sol nascer.

O seu riso fácil,
De olhar fechado,
Encontrou um bobo
Que fez-se aparecer.

Com um papo mole,
Cheio de deboche,
Enlacei teu foco.
— Vem me conhecer!

Te chamei de lado,
Dei o meu recado!
— Duas e meia em ponto.
— E se eu não aparecer?

Fiquei encabulado,
Me pôs encurralado.
Mas, quase de sopapo,
Fui logo a responder:

Já é passada a hora,
Venha sem demora.
Estarei lhe esperando,
Não vai se arrepender.

Logo lhe via vindo,
Em veste azul clarinho.
Teus olhos mirei, rindo:
— O que eu vou dizer?

Ao beijar-te a boca,
Disse a lua, rouca:
— Espero mais um pouco
Pro dia amanhecer.

E, hoje, quem diria
Que aquela noite fria
Daria como resultado
O nosso bem querer?

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Aquele mesmo olhar

Miro teus olhos já cansados.
Prostrados, tantas vezes os vi.
Teu cansaço contrasta a agilidade de outrora.

Éramos amantes ferozes, intensos;
Hoje, nos amamos tenros.

Os longos beijos se foram
E deram lugar a singelos e inebriantes olhares.
A lucidez de teus olhos ainda é
E sempre será minha luz.

Contigo aprendi a amar e
O amor apreender.

Há 50 anos vi teu olhar juvenil,
Calmo e brilhante.
E, ainda agora, vejo, ao mirar-te,
Aquele mesmo olhar.

A paixão de jovens é, agora, amor maduro.

Nossos corpos,
Já cheios de marcas da vida,
São apenas moldura para a obra-prima de nossas almas.

E, dos que dizem já estarmos velhos,
Discordo ferozmente.
Afinal, olhar não envelhece.


domingo, 7 de agosto de 2016

Vem ver a banda passar

Desse logo desse apê, 
Tá na hora de ir ver
A banda passar pela praça. 

Não se limite a viver
Enfurnado no seu mundo
Deixando a vida passar.

Se estiver difícil, estou
Sempre aqui pra ajudar.
Deixa a tristeza pra depois,
Vem comigo se esbaldar. 

A vida é muito curta e muito bela
Pra jogar fora com tristeza. 

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Antes de dormir

Cola teu rosto no meu. 
Afaga suas mágoas e decepções em mim.
Conta seu dia, suas coisas, suas besteiras.

Vamos conversar horas, perder o tempo 
E a hora de ir embora. 
Afinal, pra que ir embora?

Vamos fazer planos, imaginar viagens.
A maioria nem se concretizará,
Mas o que importa?
Só de imaginar isso tudo com você já fico feliz.

Cola teu ouvido na minha boca
Pra eu prometer mundos
E falar sacanagem. 

Cola teu corpo no meu
Pra sentirmos um ao outro
E termos os corações colados. 

Gruda sua boca na minha,
Seu olhar no meu,
Sua alma na minha. 

Vamos comemorar qualquer data boba
Pelo simples fato de fazer ficarmos juntos. 

Dorme bem, sonha comigo e boa noite. 
Beijos.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Poema Aleatório #44

Dia desses lembrei de nós.

Despretensioso, ri dos planos feitos.
Como era bom planejar uma vida com tão pouca idade.

Lembrei do início, do sorriso despertado.
Lembrei do frio na barriga, da mão gelada.

Já achei que daria um bom livro a história toda.
Já escrevi alguns parágrafos, mas...

Lembro-me também do fim.
Ainda tento entendê-lo.

Não me culpes.
Fugi, num súbito egoísta.
Hoje é um pouco mais claro.

O tempo rugiu, as vidraças quebraram e me vi,
De repente,
No meio de um furacão.

Fugir era mais fácil, mais simples.
Mais tolo.

Mas fomos dois plenamente,
Não eternamente.



segunda-feira, 27 de junho de 2016

Ontem passei na frente da sua casa

Ontem passei na frente de sua casa.
Nada demais, apenas de passagem.

A vontade de parar foi grande.
Talvez eu devesse mesmo ter parado, mas…


Chega uma hora em que é vazio.
O dia esvazia, a noite esvazia.
Aquela viagem que sempre foi tranquila fica turbulenta.

A tinta da caneta seca e só.

Esse vazio toma conta de muita coisa.
Tomou conta de quase tudo.


Não que isso seja ruim, pelo contrário.
Só é triste.

Nem sempre a tristeza é ruim.

Morte é adubo e adubo é vida.

Lembro do dia em que sua rua alagou e,
Entre nós, 
Havia quase um rio.

Esse rio virou lagoa, depois mar.

Nesse tempo eu aprendi a navegar.
O vai e vem do mar não me enjoa mais
E sei mais ou menos pra onde as estrelas vão.


Queria navegar-te como louco.
Hoje, olho ressabiado o morrer de suas ondas na minha praia.


Ontem passei na frente de sua casa.
Nada demais, apenas de passagem.

domingo, 19 de junho de 2016

Só há chama na loucura

A normalidade me assusta. 
O pensamento dentro da caixa,
Sem insights motivadores e motivantes. 

A vida monótona e segura é, todavia,
Muito insegura.

Aquele amor morno, sem graça
Não basta pra suprir as vontades.
Tem que ter loucura, tem que ter novo.

Nada como o inesperado,
Como um "vou te roubar",
Como um "feche os olhos"
Pra apimentar e enlouquecer qualquer um.

Paixão morna dá dor de barriga, indigestão.
Não dá vontade nem de provar.

O amor louco não. Muito pelo contrário!
Tão certo quanto sem dúvida,
Permeia a alma em plenitude e ascende
Uma chama que arde intensamente.

E, disso, só os loucos sabem.
Vivem sob o céu azul,
Lutando nos dias de luta
Pra amar nos dias de glória.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

O pôr do sol



Por detrás do horizonte, repousava o sol
Depois de um dia de trabalho.

Mesmo cansado, fatigado, quase sem forças,
Presenteou a todos os que o observavam
Uma transe de cores e formas.

O sol, no alto de sua majestade,
Deleitou os olhos dos grão de areia que,
Perplexos, observavam-no.

O sol é bicho estranho.
Seca, cura, mata, desidrata.
Também ilumina, traz esperanças e aquece.

O sol é bem como o amor.

Nasce lento, como se acordasse de um profundo sono.
Ascende rápido e esquenta tudo.
No seu ápice, permeia quase todo o chão.

Daí descende. Alguns percebem tarde demais e,
De repente, já é noite.

Mas outros seres o observam descer, agasalham-se
E preparam-se para vê-lo partir.

Nunca soube dizer se pôr do sol é início ou fim.
Nunca soube dizer o que é amor.
Quem sabe, talvez, por isso, seja tão apaixonante ver
O pôr do sol.

domingo, 12 de junho de 2016

Quem sabe um dia

Não sei se sou seu tipo
Nem se sou caminho.
Mas, assim, lhe digo:
Um pequeno desvio
Que mal pode fazer?

Tô há mais de ano,
Já não sei se clamo
Ou se deixo o pranto 
Escorrer.

Já perdi a hora
E, sem mais demora, 
Pego o telefone!
Quero te dizer:

Já tá ficando feio
Esse meu anseio
De te amar desse tanto
Sem você querer.

Já deu minha hora,
Vou-me sem demora;
Mas, antes de tudo, 
Quero lhe dizer:

Se por um acaso,
Nas voltas do mundo,
Não encontrar insumo 
Pro seu bem querer,
Pode ter certeza
Que terás em mim
Teu amanhecer. 

sexta-feira, 10 de junho de 2016

O melhor vem antes do beijo

Há quem diga que o beijo é o desfecho perfeito
Para o encontro de um casal.

Divirjo num ponto crucial: a magia do quase.

Antes do beijo tudo é dúvida,
Tudo é expectativa e imaginação.
Antes do beijo é água na boca,
É a incerteza mais gostosa.

Os lábios quase se encostam.
Os olhos se beijam loucamente.

A respiração acelera, os batimentos enlouquecem.
Sobe um frio na espinha, desce um calor maluco.

Juras de amor e paixão são ditas ao pé do ouvido
Com a voz de amante intenso.

Na sincronia dos movimentos dos rostos,
O quase se torna eminente e tudo potencializa.
As mãos tocam os rostos um do outro,
Os corpos grudam com a super cola da atração
E nada mais importa.

Pouco importa quem passa, que horas são,
O trabalho, a dor...
Nada.

O beijo é o ato final de um espetáculo de calores,
Sentimentos, imaginação e loucura.

Há quem diga que o beijo é o desfecho perfeito
Para o encontro de um casal.
Prefiro pensar que
O melhor vem antes do beijo.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Leve e calma

Num instante os olhos se cruzam.
Os lábios se tocam,
Os braços se entrelaçam 
E os corpos se juntam.

O mundo lá fora parou,
As luzes diminuem
E a penumbra é perfeita.

Os longos beijos encurtam-se
E os olhares se prolongam.

Miro teu corpo como que fotografando cada milímetro,
Acaricio-te como se fosse a última vez.

Percorro tua pele com beijos
Até seu pescoço insinuante.
Sinto contorcer teu corpo e fechar teus olhos.
Ajeito seus cabelos para desnudar tua nuca.
Arrepia teu corpo numa onda de calor.

Tuas costas, entregues à loucura,
Não se aguentam e se viram.
Teus flancos, reagem ao mínimo toque.

Daqui pra frente não me lembro mais.
Alguns relâmpagos de memória vêm e vão.

A memória volta perfeita no abraço derradeiro.
Você pousada sobre meu peito num sono tenro e profundo.
Leve e calma.

domingo, 5 de junho de 2016

Os olhos mentem

Naqueles dois sóis ele via
Esplendorosos girassóis
Seguindo a luz solar por onde ela ia.
Naqueles olhos castanhos, 
Tais quais o tronco de um carvalho antigo,
Achou abrigo para sua busca. 

Ele achava que os olhos eram espelho d'alma.
Pautava-se na anatomia do nervo óptico,
Na fisiologia da visão,
Na poesia da antiga tradição. 

Dizia, fagueiro e ligeiro, pra quem quisesse ouvir:
"Os olhos são verdade, não importa
O quanto as pessoas mentir tentem".
Mal sabia ele que o único defeito dos olhos
É que eles também mentem. 

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Algumas notas sobre nós

Éramos dois estranhos conhecidos;
Batemos pela vida até nos encontrarmos;
Não falou 81, ganhei-lhe um beijo;
Daquele banco, o pedaço de cerâmica não se esquece;
O olhar que não deixa estudar;
Daquele boné não me esqueço mais;
Das idas e vindas, prefiro as vindas;
Nos dias amanhecidos, a surpresa da hora ligeira;
Das tristezas, a última;
Os sonhos viraram insônia;
Aquela caixa de chicletes ainda guardo comigo;
A foto única é, às vezes, abrigo;
Meus devaneios, já não os tenho visto;
De seus olhos, não me olvido.

domingo, 29 de maio de 2016

Domingo de noite

Domingo de noite é aquela agonia.
Acaba o Fantástico, melancolia.
Um sincício de sensações,
De emoções e de paixões.

A saudade aumenta; a fome, também.
O choro quer vir, mas o riso não deixa.
O amor vem fluir sentimentos de gaveta.

Domingo de noite é assim:
Uma dor que arde sem se ver,
A saudade de um bem querer.
Se é fim ou início? Não sei dizer.

domingo, 22 de maio de 2016

Caixa preta

Das tantas verdades acerca do amor,
Apenas uma e somente uma é a mais verdadeira de todas.
Amar é ganhar asas, é poder flutuar acima das nuvens.

Amar é como pilotar um avião.

Assim como na aviação, no amor, a gente começa aprendendo.
Primeiro, são aeronaves pequenas, pouco potentes e com poucos
Ou nenhum passageiro.

Assim como no amor, na aviação, o piloto vai galgando maiores aeronaves
Até chegar, um dia, a pilotar um jumbo.

Assim como na aviação, também, no amor, são dois.
Um piloto e um copiloto.
Mas sem hierarquia, sem poderes a mais ou a menos.
São dois para garantir o voo.
São dois pra que, na falta de um, o avião não caia.

Todavia, a maior sacada de semelhança entre amor e avião
É a caixa preta.

Nenhum avião cai por conta de um erro.
Ninguém morre por conta de um erro.
Ninguém sofre ou chora por conta de um erro.
São vários, na maioria das vezes, pequeninos erros que,
Quando juntos, são catástrofe.

E com toda catástrofe vem dor, sofrimento, choro.
Alguma coisa sempre morre, se fere ou se perde.

Pra evitar tudo isso, temos a caixa preta:
Pra recordar tudo que fizemos ou deixamos de fazer,
Tudo o que falamos ou não,
Tudo o que sentimos ou ignoramos.

Isso tudo pra que, quando o avião caia,
O sofrimento não seja em vão.
Isso tudo pra que ganhemos sabedoria para alçar novos voos.

O amor dá asas de fato.
O amor nos faz flutuar entre as nuvens de fato.
O amor é das coisas mais lindas que existem assim como voar.
Contudo, ambos exigem algo que nem todos têm ou podem ter:
Coragem.


Só voa e só ama quem não tem medo de cair.