quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Fé (Machado de Assis)

As orações dos homens
Subam eternamente aos teus ouvidos;
Eternamente aos teus ouvidos soem
          Os cânticos da terra.

          No turvo mar da vida,
Onde aos parcéis do crime a alma naufraga,
A derradeira bússola nos seja,
          Senhor, tua palavra.

          A melhor segurança
Da nossa íntima paz, Senhor, é esta;
Esta a luz que há de abrir à estância eterna
          O fulgido caminho.

          Ah ! feliz o que pode,
No extremo adeus às cousas deste mundo,
Quando a alma, despida de vaidade,
          Vê quanto vale a terra;

          Quando das glórias frias
Que o tempo dá e o mesmo tempo some,
Despida já, — os olhos moribundos
          Volta às eternas glórias;

          Feliz o que nos lábios,
No coração, na mente põe teu nome,
E só por ele cuida entrar cantando
          No seio do infinito.

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