quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Então, eu nasci

Abro meus olhos.
Uma luz intensa e branca cegava a pouca visão que eu tinha.
Não via nada, era escuridão total.
Mas, no fundo de minha alma,
eu sabia que enxergava.

Porém não havia nada a ser visto.
Então, o calor.
Do frio congelante em que estava,
fui para um lugar quente, agradável, seguro.

Meses se passaram desde então.
Vozes tentavam se comunicar comigo.
E eu com elas.
A sensação passada, de enxergar o nada, voltara.
Eu não podia me comunicar com aquelas vozes,
todavia,
em meu coração, tudo fazia sentido.
E tudo era sentido de uma forma especial.

Meu cérebro, ainda não totalmente desenvolvido,
não podia decifrar o que eu ouvia.
Minha alma, por outro lado,
conectava-se fortemente com as almas
daquelas vozes sem rosto, mas com familaridade.

Muito barulho, de repente.
Era eu comprimido por paredes estranhas.
Outra luz encheu meus olhos precoces de claridade.
Uma claridade muito menos intensa
do que a primeira que vira.

Então, sou expulso de minha casa.
E por isso choro.
Muito.

A frieza do lugar em que eu estava
aumentava a saudade daquela casa
que foi minha
por tão pouco tempo.

Esfregam panos em mim e me levam.
Levam-me para onde sempre quero voltar quando em apuros.
Levam-me para o que se tornou,
é até hoje
e sempre será sinônimo de paz e tranquilidade.

Fui levado para os braços de minha mãe.
E, de repente, toda aquela confusão
que se estabelecera em volta de mim
acabou.

Éramos nós dois.
Eu e ela 
naquele olhar eterno,
singelo.

Então, eu nasci.

Victor da Silva Neris 

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