Tão
velho estou como árvore no inverno,
vulcão
sufocado, pássaro sonolento.
Tão
velho estou, de pálpebras baixas,
acostumado
apenas ao som das músicas,
à
forma das letras.
Fere-me
a luz das lâmpadas, o grito frenético
dos
provisórios dias do mundo:
Mas
há um sol eterno, eterno e brando
e
uma voz que não me canso, muito longe, de ouvir.
Desculpai-me
esta face, que se fez resignada:
já
não é a minha, mas a do tempo,
com
seus muitos episódios.
Desculpai-me
não ser bem eu:
mas
um fantasma de tudo.
Recebereis
em mim muitos mil anos, é certo,
com
suas sombras, porém, suas intermináveis sombras.
Desculpai-me
viver ainda:
que
os destroços, mesmo os da maior glória,
são
na verdade só destroços, destroços.