I
As vacas voam sempre devagar
porque elas gostam da paisagem.
Porque, para elas, o encanto único de uma viagem
é olhar, olhar...
II
Partir... tão bom! Mas para que chegar?
III
O melhor de tudo é embarcarmos num poema...
Carlos Drummond, um dia, me pôs de passageiro num
poema seu.
Ah, seu Carlos maquinista, até hoje ainda não
encontrei palavras para agradecer-lhe...
Mas que longa, longa viagem será!
IV
E das janelinhas do trenzinho-poema
abanaremos para os brotinhos do futuro.
Ui, como serão os brotinhos do século XXIII,
meu Deus do Céu?
Pergunta boba! Em todas as épocas da História
um brotinho é um brotinho é um brotinho...
V
Tenho pena, isto sim, dos que viajam de avião a jato:
só conhecem do mundo os aeroportos...
E todos os aeroportos do mundo são iguais,
excessivamente sanitários
e com anúncios de Coca-Cola.
VI
Nada há, porém, como partir na lírica desarrumação
da minha cama-jangada
Onde escrevo noite a dentro estes poeminhas com a
esferográfica:
a tinta — quem diria? — é verde, verde...
ta
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