domingo, 5 de abril de 2015

Cicatriz

Quando a gente para pra pensar
Em tudo o que acontece 
E em tudo o que não aconteceu,
Chega a dar um aperto no peito,
Ficamos meio sem jeito.
Por que tudo aquilo pereceu?

Mas vem o contra-peso,
A alegria, a felicidade, o amor.
Vem a bonança, a esperança
E, então, se esquece o desamor.

Na balança da vida,
Somos mais felizes que tristes,
Somos mais alegres que depressivos,
Somos mais mais que menos menos.

Não se engane, amigo:
Se hoje estás caído,
Amanhã estarás renascido
E o antigo ferimento
Que tanto lhe tirou o contento
Será cicatriz curada
Que servirá somente
Para lembrar-lhe do que já foi
E do quão melhor está agora.

Cicatriz é passado,
Recibo da tempestade.
Cicatriz é moldura
Do sofrimento vencido.
Cicatriz é a chama do ruim
Arrefecida pela mão do bem.
Cicatriz é passado.
Cicatriz é passado.
Cicatriz...
Passou.

Victor da Silva Neris

domingo, 30 de novembro de 2014

Sina

Parece uma sina.
Não termina.
É a batina.

O sacerdócio do poeta
Mantém-se nisso.
Perdidos no futuro
Ou no passado.
Sempre num lugar distante
Ideal ou não.

O poeta canta suas esperanças,
Seus desejos, seus sonhos.
E quando digo seus,
Refiro-me a ti também.

O poeta é o cronista da vida.
Observa, reflete e escreve.
O poeta é o porta voz
Dos sentimentos que ninguém,
Repito, ninguém,
Consegue entender.

Aí está outra sina dos poetas.
Entendem os sentimentos alheios,
Mas os próprios,
Naturalmente confusos,
Ninguém decifra.

Por isso o sacerdócio.
Por isso a dor dos poetas.
Por isso a beleza de seus escritos.
Por isso a poesia.

Victor da Silva Neris

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Paixonite

Doença perigosa, contagiosa e,
Muitas vezes,
Pode evoluir para o óbito.
De difícil prevenção,
Pode apresentar quadros agudo e crônico.
Não há exames confiáveis o suficiente
Para diagnosticar tal mal.
Estudos já utilizaram medicina oriental,
Todavia não foram atingidos resultados satisfatórios.
Recomenda-se o maior zelo, pois o contágio é extremamente rápido e imperceptível.
Não adianta procurar os pronto-socorros:
Dor no peito, de cabeça e desconcentração não podem ser diminuídas.
Nem com o mais potente dos fármacos.
Não há vacina, não há soro, não há nada.

Victor da Silva Neris

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Sabe a paixão?

Sabe a paixão?
É aquela que lasca todo mundo.
Passou.
Nem disse oi.


Victor da Silva Neris

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Mar de estrelas

Já é tarde e a noite avança,
Galopante, escurecendo tudo.
As únicas e solitárias, no escuro,
Estrelas mantêm a esperança.

São corajosos pontos de luz
Que a luz do sol reluzem,
Indicando ao perdido o norte
E ao apaixonado a face nua
Da amada que admira a lua.

Um mar de estrelas
Ou um cardume delas
No mar escuro.
Oh, mar de estrelas!
Se hão de me ouvir,
Levem a ela
Esses versos que escrevi.

Victor da Silva Neris

sábado, 1 de novembro de 2014

Seu nome,

Quis escrever a canção mais sincera
Pra - quem sabe como ou quando -
Conseguir aquele pequeno espaço
Num cantinho do seu coração.

Infelizmente, minha tão ardente paixão
Não era capaz de dissertar uma palavra que fosse.
Estagnada, pedia uma foto sua para aumentar o fogo.
Eu não a tinha.

A última fora jogada fora junto com alguns outros arquivos,
Que não me eram mais necessários.
Irrecuperável.
Não só a foto, mas nós dois também?

Tal reflexão foi de brutalidade tal que tive de parar meus pensamentos.
A possibilidade de nunca mais sermos o que fomos um dia
É assaz cruel para mim.

Seria como negar algo em que deposito crassa fé.
Seria como negar o amor.
Eu não posso negar o amor.

Eu não quero ser só eu.
Eu quero meu eu junto do teu.
Eu quero ser contigo,
Ser seu melhor amigo.

Victor da Silva Neris

sábado, 25 de outubro de 2014

Noites de "amor"

O primeiro raio de sol toca minha retina
E a luz de meu sonho desaparece.
Tento, forçosamente, continuar em minhas fantasias,
Mas já é tarde.

As tão belas e saciáveis sensações se foram.
As ideias já são passado
E esse passado já foi esquecido.

Aquele beijo eterno,
Aquelas carícias tão aprazíveis.
A pele marcada pelo suor da paixão.
As marcas do nosso embate de amor.

A brutalidade sutil se fora.
A ideia de nosso amor não existe mais.
Agora só há a realidade
- Dura e fria -
Acompanhando-me.

O som de teus tão ardentes gemidos
Foi suplantado pelo silêncio frígido,
Pela falta que é assassina de minhas ilusões.
O calor de teus braços deu lugar ao vazio da cama.
Sem ti, ela triplica de tamanho
E multiplica, infinitamente,
A solidão.

O que me resta é esperar chegar a noite,
Porque, ultimamente,
Minha companhia é a noite inteira
Quando não me acompanhas nos meus tão calorosos sonhos.

Victor da Silva Neris