tic, tac.
tic, tac.
tic, tac.
(passou-se 1 segundo)
tic, tac.
tic tac.
Oh meu Deus, o tempo não passa!
Saudade, além de nos fazer mal,
faz com que o tempo passe bem devagar.
Victor da Silva Neris
Modernamente, cotidianamente, inconscientemente, propositalmente, nos perdemos nesse cotidiano maluco. Ora, pois, poesias existem para guiar os cabra desse mundão sem tamanho. Este blog é justamente para isso. Leia e se encontre, ou se perca mais. Afinal, "perder-se também é caminho", Clarice Linspector.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Ternura (Vinícius de Moraes)
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
A Canção do Africano (Castro Alves)
Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto o braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão...
De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez, pr'a não o escutar!
"Minha terra é lá bem longe,
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!
"O sol faz lá tudo em fogo,
Faz em brasa toda a areia;
Ninguém sabe como é belo
Ver de tarde a papa-ceia!
"Aquelas terras tão grandes,
Tão compridas como o mar,
Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar...
"Lá todos vivem felizes,
Todos dançam no terreiro;
A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro".
O escravo calou a fala,
Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
P'ra não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!
.............................
O escravo então foi deitar-se,
Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.
E a cativa desgraçada
Deita seu filho, calada,
E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!
Sentado na estreita sala,
Junto o braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão...
De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez, pr'a não o escutar!
"Minha terra é lá bem longe,
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!
"O sol faz lá tudo em fogo,
Faz em brasa toda a areia;
Ninguém sabe como é belo
Ver de tarde a papa-ceia!
"Aquelas terras tão grandes,
Tão compridas como o mar,
Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar...
"Lá todos vivem felizes,
Todos dançam no terreiro;
A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro".
O escravo calou a fala,
Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
P'ra não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!
.............................
O escravo então foi deitar-se,
Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.
E a cativa desgraçada
Deita seu filho, calada,
E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
Soneto do amigo (Vinícius de Moraes)
Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.
É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.
Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.
O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.
É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.
Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.
O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Saudade
Saudade.
Só tem na Língua Portuguesa.
Mas está presente em todos nós.
Saudade de alguma coisa,
Ou de alguém, ou de alguns muitos alguém!
A nostalgia dos bons tempos,
Também é saudade. Só que com nome diferente.
Lembrando dos amigos, dos bons momentos,
Fico triste por não poder mais vivê-los.
Fico triste por não mais vê-los, como antes.
Bastaria um dia da antiga convivência.
Só um dia.
É muito?
Já me disseram: "só os próximos ficam!"
Mas eu não quero só os próximos, quero todos!
Não sei mais o que pensar,
Não sei mais o que dizer.
Só é um desabafo.
Só é a saudade.
Só saudade.
Saudade.
Só tem na Língua Portuguesa.
Mas está presente em todos nós.
Saudade de alguma coisa,
Ou de alguém, ou de alguns muitos alguém!
A nostalgia dos bons tempos,
Também é saudade. Só que com nome diferente.
Lembrando dos amigos, dos bons momentos,
Fico triste por não poder mais vivê-los.
Fico triste por não mais vê-los, como antes.
Bastaria um dia da antiga convivência.
Só um dia.
É muito?
Já me disseram: "só os próximos ficam!"
Mas eu não quero só os próximos, quero todos!
Não sei mais o que pensar,
Não sei mais o que dizer.
Só é um desabafo.
Só é a saudade.
Só saudade.
Saudade.
Canção do Amor-Perfeito (Cecília Meireles)
Canção do Amor-Perfeito Eu vi o raio de sol
beijar o outono.
Eu vi na mão dos adeuses
o anel de ouro.
Não quero dizer o dia.
Não posso dizer o dono.
Eu vi bandeiras abertas
sobre o mar largo
e ouvi cantar as sereias.
Longe, num barco,
deixei meus olhos alegres,
trouxe meu sorriso amargo.
Bem no regaço da lua,
já não padeço.
Ai, seja como quiseres,
Amor-Perfeito,
gostaria que ficasses,
mas, se fores, não te esqueço.
beijar o outono.
Eu vi na mão dos adeuses
o anel de ouro.
Não quero dizer o dia.
Não posso dizer o dono.
Eu vi bandeiras abertas
sobre o mar largo
e ouvi cantar as sereias.
Longe, num barco,
deixei meus olhos alegres,
trouxe meu sorriso amargo.
Bem no regaço da lua,
já não padeço.
Ai, seja como quiseres,
Amor-Perfeito,
gostaria que ficasses,
mas, se fores, não te esqueço.
Noite passada
Noite passada meu bem,
Em teus braços dormia.
Depois de uma noite de amor,
Somente sua voz ouvia.
Lembro-me de seus beijos,
Da pele macia dos seus seios.
Lembro-me das suas curvas,
Da sua boca carnuda.
Envolvido por suas carícias
Não me contive, avancei!
Dotado de muita malícia,
Teu corpo devorei!
Prazer intenso, difícil de esquecer!
Amor carnal que não pude conter.
Espero que feliz estejas agora
Lembrando dessa noite maravilhosa!
Victor da Silva Neris
Em teus braços dormia.
Depois de uma noite de amor,
Somente sua voz ouvia.
Lembro-me de seus beijos,
Da pele macia dos seus seios.
Lembro-me das suas curvas,
Da sua boca carnuda.
Envolvido por suas carícias
Não me contive, avancei!
Dotado de muita malícia,
Teu corpo devorei!
Prazer intenso, difícil de esquecer!
Amor carnal que não pude conter.
Espero que feliz estejas agora
Lembrando dessa noite maravilhosa!
Victor da Silva Neris
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