sábado, 17 de março de 2012

Eu com duas damas vim (Gregório de Matos)

Eu com duas Damas vim
de uma certa romaria,
uma feia em demasia,
sendo a outra um Serafim:
e vendo-as eu ir assim
sós, e sem amantes seus,
lhes perguntei, Anjos meus,
que vos pôs em tal estado?
a feia diz, que o pecado,
A mais formosa, que Deus.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Guerra Fria

...
...

TENSÃO
AMEAÇA

...
...

CONSPIRAÇÃO
TENSÃO

...
...

ARMAS
TENSÃO

...
...

Um botão mudaria tudo.
Um engano mudaria tudo.
Uma guerra que nunca foi
Fria.

domingo, 4 de março de 2012

Vida: um paradoxo

Amamos sem amar, cuidando.
Vivemos sem viver, sonhamos.
Entendemos sem entender, filosofando.

A vida não passa de um punhado de paradoxos.
Tudo se contradiz.
Tudo se explica também.
Sem explicar nada.

Caminhamos com mil planos,
Mas sem rumo.
Vivemos cem anos,
Mas somos imortais.

Victor da Silva Neris

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Algumas variações sobre um mesmo tema (Mário Quintana)

I

As vacas voam sempre devagar
porque elas gostam da paisagem.
Porque, para elas, o encanto único de uma viagem
é olhar, olhar...


II

Partir... tão bom! Mas para que chegar?


III

O melhor de tudo é embarcarmos num poema...
Carlos Drummond, um dia, me pôs de passageiro num
poema seu.
Ah, seu Carlos maquinista, até hoje ainda não
encontrei palavras para agradecer-lhe...
Mas que longa, longa viagem será!


IV

E das janelinhas do trenzinho-poema
abanaremos para os brotinhos do futuro.
Ui, como serão os brotinhos do século XXIII,
meu Deus do Céu?
Pergunta boba! Em todas as épocas da História
um brotinho é um brotinho é um brotinho...


V

Tenho pena, isto sim, dos que viajam de avião a jato:
só conhecem do mundo os aeroportos...
E todos os aeroportos do mundo são iguais,
excessivamente sanitários
e com anúncios de Coca-Cola.

VI

Nada há, porém, como partir na lírica desarrumação
da minha cama-jangada
Onde escrevo noite a dentro estes poeminhas com a
esferográfica:
a tinta — quem diria? — é verde, verde...

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Fragmento (Casemiro de Abreu)

O mundo é uma mentira, a glória — fumo,
A morte — um beijo, e esta vida um sonho
Pesado ou doce, que s’esvai na campa!
O homem nasce, cresce, alegre e crente
Entra no mundo c’o sorrir nos lábios,
Traz os perfumes que lhe dera o berço,
Veste-se belo d’ilusões douradas,
Canta, suspira, crê, sente esperanças,
E um dia o vendaval do desengano
Varre-lhes as flores do jardim da vida
E nu das vestes que lhe dera o berço
Treme de frio ao vento do infortúnio!
Depois — louco sublime — ele se engana,
Tenta enganar-se pr’a curar as mágoas
Cria fantasmas na cabeça em fogo
De novo atira o seu batel nas ondas,
Trabalha, luta e se afadiga embalde
Até que a morte lhe desmancha os sonhos
Pobre — insensato que achar por força
Pérola fina em lodaçal imundo!
— Menino louco que se cansa e mata
Atrás da borboleta que travessa
Nas moitas do mangal voa e se perde!

DA FELICIDADE (Mário Quintana)

Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!

domingo, 5 de fevereiro de 2012

História de vida

Nasci.
Cresci.
Me desenvolvi.
Te conheci.
Me apaixonei.
Te amei.
Te amo.
Sempre amar-lhe-ei.