Virá o dia em que
eu hei de ser um velho experiente
Olhando as coisas
através de uma filosofia sensata
E lendo os
clássicos com a afeição que a minha mocidade não permite.
Nesse dia Deus
talvez tenha entrado definitivamente em meu espírito
Ou talvez tenha
saído definitivamente dele.
Então todos os
meus atos serão encaminhados no sentido do túmuIo
E todas as idéias
autobiográficas da mocidade terão desaparecido:
Ficará talvez
somente a idéia do testamento bem escrito.
Serei um velho,
não terei mocidade, nem sexo, nem vida
Só terei uma
experiência extraordinária.
Fecharei minha
alma a todos e a tudo
Passará por mim
muito longe o ruído da vida e do mundo
Só o ruído do
coração doente me avisará de uns restos de vida em mim.
Nem o cigarro da
mocidade restará.
Será um cigarro
forte que satisfará os pulmões viciados
E que dará a tudo
um ar saturado de velhice.
Não escreverei
mais a lápis
E só usarei
pergaminhos compridos.
Terei um casaco de
alpaca que me fechará os olhos.
Serei um corpo sem
mocidade, inútil, vazio
Cheio de irritação
para com a vida
Cheio de irritação
para comigo mesmo.
O eterno velho que
nada é, nada vale, nada teve
O velho cujo único
valor é ser o cadáver de uma mocidade criadora.
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